No primeiro dia, frei Afonso
palestrou sobre o documento do papa Francisco Evangelii Gaudium que trata da
missão evangelizadora.
Neste documento, o papa apela
para que, além da doutrina, do exemplo e do conhecimento, que tenhamos alegria
ao evangelizar.
Aquele que tem o Cristo tem a
alegria do evangelizar. “Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja
em vós, e a vossa alegria seja completa.”(Jo 15,11).
As demais palestras foram de
Solange do Carmo, teóloga, catequista e escritora autora da coleção catequese
permanente.
Precisamos parar de tentar mudar
o mundo e começar a nos adaptar a ele. Ele não mudará e as coisas tendem a
piorar ainda mais, por isso precisamos nos adaptar.
A família de antes trazia as
crianças para o catecismo, com uma base já pronta. Hoje precisamos buscar os
catequizandos lá, dentro das famílias. As famílias não colaboram e não vão
colaborar porque o modelo de família mudou. Então trabalhemos com o que temos e
não com aquilo que gostaríamos de ter.
Gostamos de imaginar a família
ideal e queremos catequizar para as crianças destas famílias. Para que a
catequese dê certo precisamos esquecer a família ideal e trabalhar com a
família atual, assumindo o mundo como ele é.
Antes a Igreja falava com
autoridade porque podia falar assim. As famílias não tinham opção e mantinham a
tradição, o que não acontece mais hoje em dia.
No mundo de hoje, cada um faz o
que quer, como quer e quando quer. Tudo é permitido e ninguém mais aceita autoridade
seja de quem for.
“Ou aprendemos nos adaptar ao
mundo ou não temos nada a oferecer a ele.” Ou oferecemos algo muito bom ou as
pessoas vão procurar Deus em outra “freguesia”! “Hoje em dia, acontece de as
pessoas irem à missa e saírem com vontade de rezar.”
Para se ter uma boa catequese é necessário que
haja três encontros do catequizando: com Deus, com os irmãos e com ele mesma. “Não nos tornamos cristãos por causa de leis,
mas por causa do encontro com Cristo” (BentoXVI).
“Catequese não é lugar de ensinar
os mandamentos e ensinar a rezar, é lugar de encontros.” Solange afirma isso
com certeza e acrescenta: “Não adianta conhecer os mandamentos de Deus sem
conhecer o Deus dos mandamentos!”
Somente a bíblia, como material
de catequese não basta, porque ela não é um manual e porque o modo de vida
descrito nela, não é o modo de vida de hoje. Cristo não ensinou e nem ordenou
nada, apenas disse: “Vem e segue-me!”.
“Não é ensinando que o divórcio é
pecado que ele deixará de existir, mas ensinando os valores do matrimônio e da
união com Deus, que faz com que o divórcio deixe de ser tão difundido.”
A Igreja precisa de catequistas sensíveis,
para sentir a necessidade de mudanças devido às mudanças que já ocorreram na
civilização. “Não vivemos um tempo de mudanças, mas uma mudança de tempos”.
No tempo de mudança a raiz permanece.
Os valores são os mesmos e a família é a mesma. Agora tudo está mudando e não parou
de mudar ainda. Estamos em uma mudança epocal, onde os valores familiares,
religiosos e políticos são muito diferentes daqueles em que fomos educados. Nós
perdemos os critérios de medição e estamos sem algo para nos comparar como
havia anteriormente.
Na crise, tudo é difícil. As soluções
parecem não existirem e tudo o que fazemos parece estar errado, mas quando a
crise passa, olhamos para trás e vemos que a solução não era tão difícil quanto
parecia ser, porque já existe um critério de medição e poderemos fazer
comparações.
Neste tempo em que vivemos,
notamos que a família perdeu a sua formação sanguínea e o afeto tem maior valor
que os laços de sangue. Por tudo isso, precisamos nos conscientizar de que a
catequese de hoje não é a mesma de ontem e não será a de amanhã, porque estamos
em fase de transição, sem um modelo formado a seguir. A própria Igreja só está
viva, porque é sensível a estas mudanças e está acostumada a se adaptar a elas.
A fé que os nossos pais tinham,
era uma Fé que não questionava aqueles que a transmitia, mas hoje, temos de
duvidar da fé que não vem acompanhada de dúvidas. “Absolutismo é coisa da
cabeça e não do Espírito Santo”.
Os desafios que temos pela frente
são preocupantes, mas são bons porque nos desinstala do comodismo. A fé em si,
desinstala-nos. Ela desinstalou Abraão, Moisés, Maria, os apóstolos, entre
muitos outros que tiveram de deixar tudo o que conheciam em nome da fé. Há sempre
um desafio para a Igreja...
“Que bom que tudo está em crise
porque é na crise que as coisas se transformam! É melhor um católico consciente
do que 99 com uma fé inconsciente!”
Temos quatro desafios pela
frente:
DESAFIO QUERIGMÁTICO: Do grego,
querígma; aquilo que se diz ou como se diz. O querígma é o primeiro anuncio, o
conteúdo e modo do primeiro anuncio.
Para o mundo de hoje, Jesus e
cruz são a mesma coisa. Por isso o querígma se torna tão necessário, já que
perdemos os valores deste.
Antes a pessoa ia para a
catequese somente para dar uma lapidada na fé que já trazia de casa. Agora ela
vai para a catequese para conhecer a fé. “Vinham com os sapatos da fé e tudo o
que o catequista tinha de fazer era engraxá-los para dar brilho. Hoje estão
vindo descalços e estamos engraxando os seus pés.”
“Só ficará na Igreja, aqueles que
viram Jesus!” Não podemos mais ficar satisfeitos somente em ouvir falar de
Deus, precisamos fazer a experiência de Jó.
O conteúdo da catequese não pode
mais ser as orações repetidas, os mandamentos, as leis e a cultura. “O conteúdo
catequético agora deve ser a APRESENTAÇÃO DE CRISTO!”
DESAFIO DA INTERIORIDADE: Com a globalização,
não sabemos mais quem somos. Não temos mais a referência da família ideal. Não temos
referências externas e precisamos buscá-las no interior de nós mesmos.
Diante do mundo podemos fazer o
que quiser e ser o que quiser. Podemos ser homens ou mulheres. Podemos ser os
dois ou nenhum. Podemos nascer brasileiros e morrer chineses, nascer homens e
morrer mulheres, e por ai a fora. Quem somos nós então?
Antes as decisões eram baseadas
na vontade divina. Eu não fazia isso ou aquilo porque era pecado, porque eram
contra os preceitos de Deus, etc. Hoje baseamos as nossas decisões nos prós e
nos contras. A razão tem mais valor que a emoção e hoje se faz o que deixa
feliz o coração, sem importar os valores familiares ou teológicos.
DESAFIO PEDAGÓGICO: Precisamos
descobrir a pedagogia própria da religião para substituir aquela emprestada da
escola.
A nossa relação com Deus é como o
conhecimento do mar: nunca conhecemos Deus, é Ele quem nos conhece. Porque Deus
é muito maior que nós. Quando uma pessoa que nunca viu o mar, vai pela primeira
vez à praia e volta falando que conheceu o mar, na verdade foi o mar quem a
conheceu, porque pode uma pessoa que se banhou na praia dizer eu conheci o mar
com toda a sua enormidade, segredos e profundidade?
O foco da catequese não é o
catequista, nem o catequizando. É o mistério de Deus. É a catequese da
iniciação porque todos os dias se inicia na fé. É um constante dever.
A pedagogia da iniciação ainda é
desconhecida para nós. É como rezar, onde achamos que algumas palavras
repetidas é uma oração e esquecemos que rezar é entrar em comunhão com Deus. “Jesus
não pode ser ensinado porque não cabe na cabeça. Ele precisa ser sentido no
coração”!
DESAFIO ECLESIAL COMUNITÁRIO: A
fé que temos não foi inventada por nós. Ela foi transmitida por alguém. Por isso
ela é comunitária. Ela também é pessoal e intransferível, mas não é individual.
A fé pode ser pessoal porque
depende da minha resposta, é intransferível porque não posso transferi-la à
outra pessoa e não pode ser individual, exatamente por ser comunitária: “somente
na comunidade, eu posso dar sentido à verdadeira fé.”
Como viver a fé comunitária em um
mundo individualista? Este é o grande desafio.
Precisamos cobrar menos e
permitir àqueles que querem se afastar, que se afastem. Esta atitude “é uma
caridade, porque aquele que é forçado a fazer a crisma hoje será ateu no amanhã”.
Fazendo isso estaremos respeitando a decisão própria e a autenticidade da
pessoa. Qualquer cobrança exagerada vai afastar a pessoa da Igreja e não
trazê-la.
A Nova Catequese
A evasão dos cristãos acontece
porque estamos dando murro em pontas de facas. A catequese não está correta. A antiga
pedagogia não funciona mais porque a cultura mudou.
A pedagogia da iniciação é
marcada por ritos, costumes, presença, participação, etc.. O índio aprende a
sua cultura sendo mergulhado nela e não com instruções escolares.
Os apóstolos usavam a catequese
da iniciação vivendo como cristãos e transmitindo este cristianismo em que
viviam. Eles não instigavam ninguém com leis e mandamentos, apenas falavam do
amor e da vida de Cristo. (At 8,26-40).
Quando a catequese virou escola,
perdeu o sentido de ser porque não se chega a Deus com a cabeça, mas com o
coração. “As coisas de Deus não podem ser vistas senão com os olhos do coração.”
(São João Paulo II).
Com o aprendizado que temos, sabemos
o que devemos fazer, mas sem a motivação que vem do coração não colocamos a fé
em prática.
“Todo curso termina, mas a
catequese não termina nunca. A crisma virou o sacramento do adeus e passou o
bastão para a primeira comunhão. Com a idéia de que a catequese é um curso, as
pessoas se preparam para a primeira eucaristia e depois que recebem “o diploma”,
vão embora e não voltam mais.”
O ambiente precisa dizer o que
vai acontecer, como um local onde haverá festa junina. Não é preciso ninguém
dizer que ali haverá uma festa junina porque as bandeirolas e as barraquinhas
já dizem isso.
“O catequista não é um professor,
mas uma testemunha da fé.” No tempo de Jesus, não havia cultura escolar. “e
sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os
confins do mundo.” (At 1,8). Lucas não disse que devemos ser professores,
doutores, etc., ele disse a palavra “testemunhas”. Testemunhas no amor, na fé e
em Cristo.
“O catequista tem sido o instrutor
de natação que não entra na água. Fica do lado de fora da piscina, ensinado aos
alunos como nadar, sem imergir com eles na água. Quando na verdade, deve ser o
primeiro a entrar na água e a nadar”, mostrando o quão gostoso é nadar e com
isso, criando interesse nos catequizandos que vão querer entrar na água também.
Os ensinamentos que o catequista dará, será conseqüência deste interesse
inicial dos catequizandos de entrar na “água”.
Como exemplo foi citado “Creio na
ressurreição da carne”. Mas o que é carne para nós?
A carne a que nos referimos na
oração do Credo, nada mais é do que o verdadeiro espírito em que vivemos aqui. Estamos
falando que cremos que vamos ressurgir, exatamente como somos, com os nossos
sentimentos e como humanos, sem a carne e os ossos, mas não como os anjos, que
nunca tiveram corpos terrenos.
Precisamos resgatar o verdadeiro
sentido da oração que é fazer comunhão com Deus, mesmo que seja sem palavras. “Devemos
ensinar não mais as orações, mas como fazê-las. Façamos isso nos encontros evitando
o Evangelho de domingo, que são seqüenciais e difíceis e valorizando as
celebrações prazerosas.”
Precisamos buscar orientações
para interpretação bíblica e não tentarmos interpretar sem um conteúdo
adequado, como por exemplo, a negação de Cristo ao divórcio: (Mt 19, 3-12). Ao dizer
não ao divórcio, Jesus não está dizendo “não” somente ao fim do casamento, mas
está defendendo a parte mais frágil que era a mulher daquela época. Ambos os
sexos poderiam dar a carta de divórcio, mas a mulher nunca o fazia, porque ao
fazê-lo, poderia apenas voltar para a casa dos pais, onde dificilmente seriam
aceitas, mendigar ou se prostituir. Assim, os homens mal intencionados, quando
a mulher começava a dar mais despesas do que prazeres, davam-lhes a carta de
divórcio e se casavam com outras mais jovens, baseando-se nas Sagradas
Escrituras. Eram estas mulheres, as defendidas por Jesus quando disse não ao
divórcio.
Enfim, lembremos que a catequese
lúdica é prazerosa, devendo haver prazer para o catequista e para os
catequizandos. A verdadeira catequese não forma ateus, mas cristãos para a vida
toda, recuperando o BELO, o MÍSTICO e o LÚDICO.
Lembremos das palavras do papa
Francisco: “Aquele que tem o Cristo tem a alegria do evangelizar.”
Entretanto, “não se cobrem
demais, catequistas. A natação se aprende é nadando. Se está mergulhado no
mistério, isso já é o bastante.”
Meus agradecimentos ao Marcelo,Imaculada e toda comissão organizadora do evento, além da catequista, teóloga, professora e escritora Solange Maria do Carmo.
Solange é uma contadora de causos
e reproduzirei os causos, que contara durante as palestras, para exemplificação
das palavras acima reproduzidas, em uma próxima postagem.
Um dos causos contados por Solange do Carmo foi sobre um vovô que dormia tranquilamente, com seus bigodes brancos e enormes caidos por sobre o rosto.
ResponderExcluirVendo aquela brancura toda, seu netinho ficou penalizado e resolveu tingir seus bigodes a fim de melhorar a aparência do avô.
Indo até o galinheiro, encontrou ali os resíduos que as galinhas defecavam de várias cores e apanhou um punhado de "tinta" preta e foi até o seu avô que estava até babando, deitado à sombra tirando a sua sexta.
Após pintar o bigode do avô, o garoto saiu para brincar, satisfeito por ter dado um ar de mocidade ao vovô querido.
Quando o avô acordou, abriu os braços para espreguiçar e respirou bem fundo para encher o peito com aquele ar puro da roça, mas não foi o que aconteceu.
Encabulado, achando que algo estivesse morto por ali, um rato ou qualquer outro animal,.. Começou a procurar sem nada encontrar.
O odor não saia do nariz e o vovô ficou preocupado e ao mesmo tempo nervoso com a esposa que, provavelmente, teria deixado de limpar a casa e por isso fedia tanto.
Pensou mais um pouco e lembrou-se de que sua esposa sempre fora muito asseada e não poderia ter deixado a casa fedendo tanto,
Então pensou que poderia ser coisa de sua cabeça e para provar isso para si mesmo, iria puxar o ar novamente com todas as suas forças e assim o fez...
A moral da história é que, mesmo que a resposta para os nossos problemas estejam embaixo do nosso nariz, preferimos culpar alguém a nos olhar no espelho para descobrir o que é que está cheirando tão mal em nosso bigode.