Antes se ensinava três perguntas
fundamentais que precisávamos trazer decorado, para que pudéssemos “diplomar-nos”,
além das orações e os mandamentos. Tudo decorado sem a preocupação com o
significado de cada oração, de cada palavra e cada rito, do qual se
participava. Coisas que hoje não tem mais o mesmo valor para a sociedade.
Contou-nos, Solange do Carmo,
durante a formação entre os dias 21 e 24 de julho de 2014, duas historinhas
para que pudéssemos perceber o quanto as coisas mudaram para que não tenhamos
resistência às novas mudanças. Reproduzo-as abaixo, conforme eu as conhecia,
mas ouvindo-a contar é bem mais interessante.
Havia em um grupo catequético,
dois irmãos chamados Joãozinho e Zezinho que tinham uma péssima fama de se
apoderar das coisas alheias. Eles escondiam os pertences dos demais catequizandos,
dos catequistas e de quem fosse que eles tivessem acesso, somente para poderem
gargalhar, vendo o desespero das pessoas a procurar pelo que lhes pertencia.
Certo dia, a catequista precisou
faltar ao encontro e pediu a uma amiga, também catequista, que a substituísse.
Aconteceu que a catequista que
cobriu a anterior era muito conservadora e já entrou na sala no intuito de
avaliar os catequizandos, fazendo as perguntas fundamentais; (Quem é Deus?
Quantos Deuses há? Onde está Deus?), mas ninguém sabia responder a estas
perguntas, porque não é mais assim que funciona a catequese de hoje.
Saindo em pânico, a catequista
procurou pelo padre, também muito conservador, para relatar que os
catequizandos estavam quase “se formando” e não sabiam nem mesmo quem era Deus.
Em atenção à senhora, velha
colaboradora paroquial, o padre então marcou um teste com os catequizandos para
avaliar seus conhecimentos e o dia chegou.
Enfileirados para o teste, o
padre esperava para atender a cada um, um por vez, para avaliá-los.
Os primeiros da fila eram de
família religiosa e quando disseram aos pais que seriam testados, estes
trataram logo de preparar os filhos, segundo o “catecismo” que aprenderam.
O padre chamou então, o primeiro
catequizando para o teste que, ao entrar, ouve do padre seguinte:
- Farei apenas uma pergunta,
responda e vai para a primeira comunhão, engasgue e repetirá a catequese: Quem
é Deus?
- Um Espírito perfeitíssimo que
criou o céu e a terra. – responde o garoto com toda a confiança e foi aprovado
pelo padre.
Ao sair da sala, o garoto avisa
aos demais que o teste é muito simples e que não precisam se preocupar,
enchendo-os de confiança.
O segundo catequizando foi
chamado e ao entrar, recebe a mesma pressão que o padre impôs ao anterior:
“farei apenas uma pergunta e se responder passa, mas se não responder na ponta
da língua, repetirá a catequese: Quantos Deus há?”.
Há apenas um Deus em três pessoas
que são Pai, Filho e Espírito Santo. - responde o garoto cheio de si.
Depois da resposta, é autorizado
a sair e chamar o próximo a ser testado.
Acalmando a turma, o garoto diz
que realmente o teste é muito fácil e anuncia que o próximo deveria entrar.
Os próximos da fila eram
Joãozinho e Zezinho. Pela ordem, entrou o Joãozinho cheio de confiança, mas já
balançou quando o padre fez a pressão inicial.
- Farei apenas uma pergunta,
Joãozinho. Sei como você tem dado trabalho, junto com seu irmão, mas aqui não
haverá enrolação. Somos eu e você e terá de responder sem pestanejar. Onde está
Deus?
Diante do silêncio do menino, o
padre insiste com mais força e pergunta novamente: “Onde está Deus?”.
O menino começa a se desesperar e
o padre então solta um grito: “Onde está Deus, Joãozinho?”, quando ele se
assusta e sai correndo.
Ainda em desespero, chega até a
fila e chama o irmão: “Vamos embora correndo Zezinho! Sumiram com Deus e estão
botando a culpa em nós”!
Também havia um menino que
caminhava com a sua mãe, quando passaram por uma encruzilhada, onde havia os
restos de um ”trabalho”.
A mãe viu aquilo e puxou logo o
menino de supetão, gritando para que se afastasse daquilo que era feitiço.
Sem entender nada, o menino
pergunta a mãe porque ela estava tão desesperada com uma coisa tão comum e ela
responde desesperada com a inocência da criança, que aquilo era feitiço e
feitiço era coisa do capeta.
Com um sorriso, o menino tenta
acalmar a mãe dizendo que era pra se despreocupar porque feitiço não era coisa
do capeta, já que na escola, viviam dizendo que Deus é um Espírito “feitiço”
que criou o céu e a terra.
Infelizmente é isso que se tornou
a nossa catequese: uma piada. Não estou criticando o nosso trabalho e tenho
certeza de que a Solange, ao contar estas historinhas, também não o fazia.
Apenas nos mostrou que aquilo que fazemos com tanto amor, não está sendo feito
da maneira correta, pelo simples fato de que não está mais funcionando.
Nossos jovens continuam
desinteressados. Nossos fiéis continuam se evadindo e os poucos que estão
ficando, não pensam duas vezes para procurar um benzedor ou um curandeiro, sempre
que acham necessário. Por que isso acontece?
A Solange nos deu a resposta para
esta questão naquela formação, dizendo que “não adianta conhecermos os
mandamentos de Deus sem conhecermos o Deus dos mandamentos.”
Agradecimentos à Solange do Carmo
que palestrou e aos organizadores da formação, entre eles, Imaculada Cintra,
Marcelo e frei Afonso.
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